A "Mudança para a Holanda" já aconteceu há alguns anos.
Hoje já tenho uma certa rotina mas, ainda, com algumas coisas novas... assim é a vida.

Muitas coisas aconteceram... nascimentos, amizades novas e fortes, outras frágeis e desfeitas.
E vai-se vivendo e aprendendo, ou não...afinal quem é perfeito? Eu tento...
E a vida ainda segue, meus caros, no "Vivendo aqui na Holanda"...
Seja bem vindo(a)!

sábado, 27 de dezembro de 2025

E quase 5 anos depois, eis 2025, 50 anos de vida e 20 anos na Holanda

E foi em 2021 que tudo mudou. 

Para muitos, as coisas mudaram em 2020 com a pandemia, para mim, foi a partir de 2021.

A gente nunca imagina quando uma avalanche está por vir e passar arrastando tudo na sua vida. Ainda um ano com resquícios do COVID, com muita gente ainda ficando doente e, infelizmente, os meus pais fizeram parte desse grupo. E eu fui ao Brasil, em caráter de urgência. Viajei da noite para o dia.

Nesse mesmo ano, tivemos o afrouxamento das restrições de isolamento e as visitas foram permitidas desde que as pessoas ainda mantivessem certos cuidados de distanciamento, higiene e evitassem grandes grupos de pessoas no mesmo lugar. E foi aí que começou a decepção com a família aqui.

Assim que foi liberado, me lembro que fomos visitar a minha sogra na clínica, num dia ensolarado e muito gostoso de setembro de 2021. Fizemos um passeio com ela pelo jardim ao redor, ela ainda conversava um pouco. De lá, fomos para a casa do meu sogro. Fazia muito, muito tempo que não nos víamos por causa das regras de isolamento. Nós aqui respeitamos à risca. Tanto que nenhum de nós teve COVID.

Quando o meu sogro abriu a porta, ficou contente em ver o filho mas quando ele viu que eu estava junto, o semblante dele se transformou! Um ódio saiu do seu olhar, o sorriso sumiu e ele soltou uma frase debochada:"Você também veio?"

Se eu tivesse tido um pouco de amor próprio naquele momento, teria ficado do lado de fora da casa. Porém, como ele sempre foi um pouco dramático e mal humorado, não levei a sério. Pensei que ele deveria estar se sentindo deprimido por estar sozinho e que iria ficar tudo bem. 

No entanto, logo depois ele disse ao meu marido que não era mais para eu ir junto nas visitas, o meu marido deveria ir sozinho. Que se eu quisesse ir, era para ir somente quando eu fosse convidada num evento familiar. Ou sozinha, que ele iria daí reservar uma hora na agenda dele para poder me receber!

Surreal...nunca vi isso acontecer! E então eu decidi que não iria mais. Fui apenas, em duas ocasiões, acompanhando o meu marido nos aniversários, em 2023 e 2024.

No fim daquele ano de 2021, um dos piores ano, ainda veio um email da minha cunhada nos desconvidando para o Sinterklass e para o Natal daquele ano.

Lembro de não ter tido coragem de contar aos meus pais. 

Recapitulando, em outubro de 2021 os meus pais adoeceram com COVID.

Em fevereiro de 2022, minha mãe faleceu aos 81 anos e essa foi a maior grande dor da minha vida.

2022 foi um ano muito, mais muito mais difícil. 

Foi um ano em que eu quase morri de tristeza e por ter ficado muito doente.

A sorte é que quando você está num país bem estruturado você tem os meios e recursos. Vale lembrar que o setor de saúde ainda se recuperava do impacto do COVID nos hospitais, mas graças a Deus, eu fui bem acompanhada.

Outro ponto a ser observado é que eu tinha acabado de sepultar a minha mãe e retornado para a Holanda. Estava esgotada, triste, arrasada. No entanto, era ocasião do aniversário do meu marido, porém estávamos de luto. Outros poderiam ter tirado de letra e vida que segue, vamos comemorar o aniversário dos que seguem vivos. Não foi esse o nosso lema. Me surpreendi e me decepcionei com o email da irmã mais nova do meu marido perguntando se ele iria fazer uma festa no aniversário dele. Afinal não era alguém da família deles que tinha falecido, não é mesmo?

E 2022 foi passando. Um dos anos mais solitários e dolorosos. Sombrio. Uma cama de hospital na sala e home care até fevereiro de 2023.

E a familia holandesa seguindo com a vida deles, planejando eventos onde só o meu marido podia participar.

Meu sogro resolveu arrumar uma namorada e a desfilar com ela por aí. A "outra" mulher foi bem mais aceita na família do que eu.

E 2023 foi um ano vazio, o pior já tinha passado mas eu estava tentando me recuperar. E a familia holandesa cada vez mais distante. 

Perdi a minha companheirinha felina, com 14 anos, Micky. Não saía de perto nem quando os enfermeiros chegavam. Não arredou o pé do meu lado. E eu tive uma conversa com ela, que ela poderia partir em paz, que eu ficaria bem e que ela poderia ir descansar no céu.

Até por conta da minha saúde, não fui aos aniversários dos sobrinhos. Alguém apareceu aqui para me visitar? Claro que não.

Meu sogro foi deixado de lado na Páscoa e perguntou se poderia vir aqui em casa. Pois bem, ele veio e eu não me senti bem com a presença dele. Só veio porque não tinha onde ir. E perguntou se poderia trazer a "amante" com ele nas próximas visitas. Falei que não. E foi hilário! Eu, como nora, esposa legítima, não posso ir com o seu filho na sua casa e você quer vir na minha casa com outra mulher? Não.

Não tem nada a ver com moralismo mas com princípios. 

Eu comecei a perceber que eu me submetia às vontades deles, não era considerada como da família, só poderia aparecer de figurante em certas ocasiões porque afinal tem que mostrar para os outros a familia perfeita e, fora isso, eu não conto?

2024 já foi um ano melhorzinho. 

Fui na última ceia de Natal com a família holandesa, sem saber ainda que seria a última.

E, em 2025, o ano que cheguei aos 50 anos! 20 anos morando aqui na Holanda e, obviamente, nenhum comentário vindo da família holandesa.

No anviersário de 18 anos da sobrinha, fomos à festa e lá tive uma outra grande decepção.

No álbum de fotos que fizeram para ela, desde o nascimento, não tinha sequer uma foto nossa com ela, ou no meio deles nesse álbum. NENHUMA!

E nesse momento eu sofri um baque. 

Eu sou invisivel para essa família. Todos esses anos tentando me ajustar, falar a língua, me comportar bem para poder ter um lugar ao sol, para quê?

Lembro de fechar o álbum de fotos, que tinha praticamente a grossura de uma bíblia, de olhar para a minha cunhada e dizer que o album tinha ficado muito bonito. Eu acho que ela se tocou, pois ficou muda, mas esse povo foge, faz de conta que está tudo bem.

Me doeu muito quando chegaram uns amigos deles lá e a menina correu pegar o álbum para mostrar que eles estavam nas fotos.

E foi aí, gente, que ao fechar o álbum de fotos, eu fechei o livro deles, com eles e para eles.

A ilusão acabou. O encanto acabou.

Ah você nunca mais vai participar de nada? Isso não é legal. 

Pois é, não sei... mas como aqui eles dizem "respeitar" a vontade da pessoa, então eu estou no meu direito de fazer o que eu quiser.

E 2025 é finito, não fui na ceia da família holandesa porque eu decidi que eu só vou onde eu possa estar à vontade e me sentir bem.

E até deixo esse artigo aqui que acabei de ler, que reforçou o meu entendimento e o respeito que eu dou aos meus sentimentos.

Família de sangue nem sempre é o nosso lugar de apoio e confiança, diz Vera Iaconellis

E eu precisava escrever sobre tudo isso. Porque até o entusiasmo que eu tinha por escrever, desapareceu.

Obrigada a você que leu até aqui.

E Feliz 2026! Feliz Ano Novo!!!

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