Numa das vezes em que estivemos com a minha sogra, meu sogro me deu uma missão: comprar uma calça nova para a minha sogra, para o inverno.
Eu não sei que padrão ela adotou, mas ela usa as mesmas roupas todos os dias, as de verão. Não adianta confronta-la, ela não aceita. Meu sogro coloca estas roupas para lavar durante a noite, enquanto ela dorme.
Minha sogra não é uma pessoa difícil. Ao contrário, está sempre disposta a sair, a fazer um passeio. Foi fácil dizer que eu queria ir ver as lojas. Ela topou na hora. O problema seria faze-la provar a calça.
Fui pensando no caminho os argumentos que eu deveria usar. Ela não quer comprar nada para ela. Diz que não precisa de nada, que já tem tudo.
Na primeira tentativa, eu disse que o meu sogro queria que ela comprasse uma calça nova. Ela ficou brava. Aquilo não era da conta dele. Quem decide o que ela tinha que vestir, era ela e não ele. Ainda tentei usar o argumento de que ela tinha emagrecido. Em vão.
(In) Felizmente ela se esquece rápido das coisas, mudei de assunto. Saímos de uma loja e caminhamos pela rua central.
No caminho, ela me perguntou o que eu queria comprar. Eu respondi que queria comprar uma calça. Entramos numa outra loja. Começamos a olhar e ela mesmo foi dizendo o que achava bonito. Sugeri que ela experimentasse as que ela tinha gostado. Ela me olhou desconfiada. Eu disse que tinha sido aniversário dela - e tinha sido mesmo - e que a gente (o filho dela) não tinha dado presente. A calça seria o nosso presente para ela. Pronto, outra tentativa frustrada. Ela disse que a gente não tinha que gastar o nosso dinheiro com ela.
Saímos da loja e ela se distraiu com o movimento da rua e outras vitrines. Dei um tempo.
Na rua um senhor, alemão, se aproximou de nós. Ele estava com a esposa. Uma senhora de olhar perdido. Ele se aproximou falando em alemão. Aliás, quando estou lá na cidade dos meus sogros, nas lojas, o povo se dirige a mim falando em alemão. E isso acontece quase sempre que ando por lá, pelo comércio.
Minha sogra, toda atenciosa, parou e começou a falar com este senhor, em alemão misturado com o holandês.
Ele queria saber onde era uma padaria/doceria muito tradicional da cidade. Enquanto minha sogra tentava se lembrar pra poder ajudá-lo, a mulher dele saiu andando, como se estivesse em estado de hipnose. Naquele instante, ele disse que precisava ir atrás dela, pois ela tinha Alzheimer. Vejam bem a situação!
Minha sogra ficou chocada em saber, lamentou, se solidarizou e disse a ele que talvez fosse bom achar outra mulher. E a mulher do senhor sumindo entre a multidão lá na rua e eles não paravam de falar. Neste momento, eu pensei no que eu deveria fazer, porque a situação era cômica para não dizer trágica. O que era aquilo? E agora? E se o senhor perdesse a mulher dele? E se a minha sogra cismasse de ir atrás da mulher também? Foram minutos de tensão para mim, claro. Puxei a minha sogra pelo braço e disse que a gente tinha que ir. O senhor se despediu e saiu correndo atrás da mulher dele.
Novamente minha sogra me perguntou para onde estávamos indo. Pensei rápido e disse que precisava comprar um presente para uma amiga que fazia aniversário. E disse que iria comprar uma calça.
Ela achou meio estranho. Como eu saberia o tamanho certo da pessoa? Foi aí que eu disse que a minha amiga tinha o mesmo tamanho dela e que se ela provasse a calça, se ficasse bom para ela, ficaria perfeito para a minha amiga.
E foi assim, gente, que eu consegui comprar uma calça nova para a minha sogra.
Se ela tem usado? Não. Apenas usou uma vez quando veio aqui em casa. Eu disse ao meu sogro para dizer a ela que era presente nosso e que ela deveria usar quando viesse aqui. Foi o que ele fez e ela assim concordou porque saberia que ia nos agradar.
Mas tem mais história para vir por aí.
3 comentários:
Parabéns atrasado Eliane 🎂🎂🎂.
Não leva a mal mas tive que rir com a história da sua sogra. Ainda bem que vc teve uma boa idéia, foi criativa.😀😀💋
Obrigada, Dona Rose...Olha, é cada coisa que se passa com a minha sogra. Apesar da doença e de todo o sofrimento que traz, nem assim a minha sogra deixa a peteca cair. Ela cria situações totalmente engraçadas que acabam por deixar tudo mais leve. E eu acho que é o certo, afinal a gente aprende a sempre ver o lado bom.
gosto das suas historias ou melhor, relatos diários
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