Sabe o que mais me chocou em relação aos meus pais?
De como estão velhos e de como eles começam com aqueles papos sobre gente que já morreu e com quem eles sonham e ficam tentando desvendar o que o tal sonho quis dizer.
Todos os dias, pela manhã, eles perguntavam um ao outro se tinham sonhado, com quem, como tinha sido o sonho. A maioria dos sonhos era com alguém que já morreu e aí tinha mais emoção!
Minha mãe perguntou ao meu marido se holandês acredita em fantasma. Oi?
Nós vimos na TV, no jornal, que o sino da igreja de uma cidade aqui, começou a tocar do nada, no meio da madrugada, por mais de duas horas sem parar, acordando a cidade toda. Ninguém soube o que aconteceu! Mistério!
Eu lembro que respondi que aqui fantasma pode até existir, mas que do jeito que holandês costuma ser, o próprio fantasma passaria a duvidar de sua própria existência. 😕
Quando me deparo com velhos aqui, no meu dia a dia, eles são ageis, ativos...achei que meus pais também estivessem assim, mas não estão.
Meu pai tem um problema sério de saúde. Até aí, posso compreender os momentos nos quais ele podia não estar muito disposto. Porém, ele não faz nada para se ajudar. E minha mãe, também não.
Meus sogros, holandeses, poucos anos mais jovens apenas. Mesmo com a doença da minha sogra, eles têm outro tipo de comportamento. Não se entregam. Procuram ser ativos e atualizados.
Meus pais, praticamente, o oposto.
Minha mãe, realmente, tem o quadro de saúde estável, bom. Porém, o físico está assustador. Andando mais devagar do que uma velhinha de 90 anos com andador. A maior dificuldade para subir e descer escadas, para pegar objetos, abrir embalagens. Também não ouve bem - entendo agora alguns mal entendidos no banco. Você fala um A e ela entende Z.
Aqui outro fragmento de um desabafo meu com uma amiga, também de muitos anos, que os conhece.
"Meu pai não queria sair porque dizia que não podia andar. No dia
que resolvemos ir para a Alemanha, nossa, saiu briga até. Dá pra
acreditar? Briga para sair passear?
Minha mãe não fez nada, nada. Levantava e ficava no quarto até
que eu me levantasse e fosse colocar as coisas pro café. Só daí
ela vinha e, algumas vezes, me ajudou colocando a mesa. Outras
vezes, guardou a louça.
Acordavam tarde e o dia não rendia muito. Como tomavam café
tarde, eu não me preocupava com o almoço, mas eles se queixavam de
fome. Em vez de irem fazer algo pra eles, não... ficavam esperando
que eu fosse fazer. Daí umas duas ou três vezes eu disse que se
eles quisessem, era só abrir a geladeira, cozinhar arroz, fazer o
que bem quisessem e daí ela resolveu ir fazer."
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