O pai do nosso vizinho e sogro daquela vizinha folgada mas que é gente boa, faleceu no final de abril.
Ele tinha 72 anos e creio que há um ano, ou nem isso, foi descoberto um cancer de pulmão.
Olha, triste viu, porque o senhor era um homem grandão, forte, bem disposto e cheio de vida pra curtir a vida boa que é estar na terceira idade por aqui, com uma boa aposentadoria. Infelizmente, não foi bem assim.
Nós recebemos o convite para o velório e a cerimônia. Devido a nossa pouca intimidade, decidimos ir apenas no velório que costuma ser de meia hora para cumprimentar a família. Bom, nós somos vizinhos. Vez ou outra a gente quebra o galho - mais nós, digá-se de passagem, os galhos deles rs - e ela me chama pra um café e vice versa. Às vezes, a gente troca uns quitutes...a menina dela AMOU o meu bolo formigueiro e eu tive que dar a receita. A menina não gosta de bolo, mas o meu...foi sucesso nas paradas.
Enfim, assim como nós, encontramos outros conhecidos dos vizinhos, que também decidiram ir nesta meia hora e devem ter pensado o mesmo que nós.
A cerimônia toda também foi bem no meio do dia, no dia seguinte, ou seja, para quem não é parente ou amigo próximo, não dava.
O velório costuma ser no início da noite, num horário em que as pessoas podem comparecer. Serviram café e chá num salão bem grande para quem quisesse ficar mais um pouco.
Tinha muita gente, pois eles são família antiga de um vilarejo e todo mundo se conhece. Havia, então, uma fila bem grande e esperamos, pelo menos, quinze minutos para entrar, passar pelo caixão fechado cercado por coroas de flores e depois, chegar nos familiares.
E é, aí, na chegada aos familiares que é a parte mais sensível.
Nós conhecemos a família, entre outras pessoas, no aniversário da filha dos nossos vizinhos. E só.
A primeira pessoa era a esposa, a mãe do nosso vizinho. Ela estava muito emocionada e abriu um sorriso simpático quando me viu e agradeceu a nossa presença.
Em seguida a filha mais velha, o marido e os filhos deles, ou seja, os netos.
Depois estava o nosso vizinho e a vizinha.
Apenas estendi a mão, num cumprimento no maior estilo holandês e ele se inclinou, encheu os olhos de lágrimas e me abraçou. Eu fiquei naquele momento meio surpresa. Não esperava isso.
E quando cheguei na minha vizinha, ela também, se debulhou em lágrima e me abraçou. Nisso, eu parei a fila para consolá-los. E danou-se todo o protocolo holandês.
E, quando nos encaminhávamos para o salão do café, na fila ainda para os cumprimentos, me deparei com uma senhora holandesa que conheci na casa dos vizinhos. A cumprimentei e segui.
Quando já estávamos sentados tomando o café, esta senhora me viu e veio falar comigo.
_Me desculpe. De onde mesmo que nos conhecemos? Você me cumprimentou e seu rosto não me é desconhecido.
Olha...se ela estava num local onde ela só conhecia os meus vizinhos, ela só poderia me conhecer da casa deles, não? Meio óbvio.
Eu ainda a chamei pelo nome e disse a ela que nós tínhamos nos encontrado por duas vezes já. Ela ficou super sem graça.
Depois passaram por nós um casal de vizinhos. Eles nos viram? Não sei, pois se viram, fizeram de conta que não. Eu desconfio que a moça é cegueta, pois ela tem o olhar perdido. Vai ver se recusa a usar óculos...e passa por antipática hahaha O marido a segurava pelo ombro e parecia guiá-la. hahaha
Depois olhei e vi outro casal. A moça também me olhava. E aí, eu me enchi...sabe quando você olha de volta, este povo, ao invés de dar um "hallo", desvia olhar, como se estivesse fazendo algo de errado.
Tem horas que eu me invoco e volto a ser o que eu era e vou lá, na maior, e chego junto!
Me levantei e fui até o tal casal. Meu marido, nestas horas, fica meio passado. Eles tomaram um susto. Não sei se não se lembravam de mim, do meu marido, ou sei lá...mas o filho deles é o melhor amiguinho da filhinha dos vizinhos. Eu me aproximei e já fui dizendo que os conhecia da casa dos vizinhos, se eles também se lembravam de mim e perguntei do menininho deles. E eles lá, gaguejando.
Eu não sei se este povo realmente esquece ou este povo faz de conta que esquece.
Quanto mais eu vivo neste país, mais eu acho estes holandeses super esquisitos.
E meu marido nestas...lógico holandês, no meio de holandeses, fica igual...e ele também olha e diz que não reconhece ninguém.
Será que é algum problema no genes de reconhecimento visual deste povo?!?!?!
Mistério!
Um comentário:
Tantas semelhanças entre os seus gringos e os meus gringos! Hoje vejo q a minha certeza é q a diferente sou eu e não chegarei ao nível deles, nunquinha;
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