A "Mudança para a Holanda" já aconteceu há alguns anos.
Hoje já tenho uma certa rotina mas, ainda, com algumas coisas novas... assim é a vida.

Muitas coisas aconteceram... nascimentos, amizades novas e fortes, outras frágeis e desfeitas.
E vai-se vivendo e aprendendo, ou não...afinal quem é perfeito? Eu tento...
E a vida ainda segue, meus caros, no "Vivendo aqui na Holanda"...
Seja bem vindo(a)!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

A morte


Que assunto para se tratar bem no começo do ano?!?!?! Capaz que tenha gente que feche a página...não pode nem falar deste assunto. Gente...é um acontecimento na vida de todos nós! rs
Bom, fato que não tem hora e nem dia para se morrer, morre-se a qualquer hora, não é mesmo?
Vamos acabar com o tabu.rs
Já era para eu ter falado disso antes, mas sabe como é, aparecem outros assuntos e este foi ficando de lado. Mas como o pai de um conhecido nosso acabou de falecer, deixa eu aproveitar o bonde.
A morte também é uma questão cultural, ou melhor dizendo, a maneira como se lida ou se prepara para a hora que ela chegar.
E holandês como planeja "religiosamente"tudo na vida, para a morte não é diferente.
Quase todo mundo tem convênio. Você planeja o seu funeral como se planeja uma festa de casamento.

Aliás, cerimônias funerárias chegam a ser mais bem organizadas do que qualquer outra festa. Bom, não posso generalizar, afinal isso vai depender do planejamento do morto.
Você pode escolher todos os detalhes: caixão, músicas, o formato do funeral, se terá missa se for para pessoas religiosas, se será sepultado ou cremado, os discursos, os comes e bebes.
O meu sogro por exemplo já foi convidado por um dos vizinhos para preparar um discurso para o seu funeral. Parece que fizeram juntos até.



E te digo, que por ter participado de quatro funerais, a coisa é um evento importante porque as pessoas se arrumam muito bem para ir a um funeral. Se vestem melhor do que para um casamento ou aniversário.


E não pense que você vai sem convite. 
Para ir a uma cerimônia você deve ter recebido o convite em casa, que vem indicando o dia, horário e o tipo de cerimônia: ou você vai apenas para se despedir do morto, que está exposto numa sala reservada ou você é convidado para a cerimônia principal, ou para as duas. Depende. Nós já fomos apenas na primeira opção, para apenas se despedir e cumprimentar familiares. Tudo vai depender da sua relação com o morto.
Porém, de uns tempos para cá, vem se falando da morte com mais frequência. Há um plano transitando no governo para se aprovar a eutanásia para os idosos que acham que é a hora de partir.
A Holanda tem muitos idosos e muitos já centenários. E muitos estão aí com saúde até. Porém muitos já pensam que já viveram tudo o que tinham para viver e querem partir o mais rápido possível.
Eu, particularmente, penso que tudo isso é muito delicado. 
Vendo uma entrevista de uma senhora com um pouco mais de cem anos, que mora sozinha na própria casa, porém já tem suas limitações físicas, declarou que quer morrer porque está cansada, os filhos têm a vida deles, os netos não têm tempo para ela e ela passa muito tempo sozinha. Ou seja, ela está excluída da vida familiar, não recebe mais a atenção das pessoas que ela gerou e criou.
Numa outra situação, uma outra senhora também centenária, vive sozinha em seu pequeno apartamento e não pensa em morrer tão cedo. Sai sozinha todos os dias, faz suas próprias compras, sua comidinha e todos no bairro a conhecem. Enquanto dava entrevista, o telefone tocou várias vezes. Uma sobrinha querendo combinar um encontro. Ela nunca se casou e nem tem filhos e tem uma vidinha muito legal.
E o pai deste nosso conhecido, já bem idoso, chegou num ponto que também "decidiu"que era hora de partir. Eu não sei o quadro em si como foi ou como começou. Quando soube, ele já estava prostrado na cama, sem comer e sem beber nada, esperando a hora chegar. Horas lúcido e horas em delírio.
Acompanhado de cuidados, não tinha dor e nem sofria. A família foi atrás de eutanásia, já que ele mesmo disse que concordava, porém os médicos se recusaram.
"Felizmente" o que poderia durar duas semanas, se resolveu em poucos dias e ele partiu como queria.
E o funeral já estava todo planejado por ele como um "grand finale"


Quem que vai querer uma injeçãozinha aí, levanta a mão!
Nestas horas eu penso em tantas pessoas doentes que lutam bravamente para viver, em tantas pessoas em tantas diversidades no mundo que querem viver sejam lá quais forem as circunstâncias...mas aqui...
Vai entender holandês...

2 comentários:

Ana Célia disse...

Ai, realmente é muito cultural e quando entra a questão da religião pega mais ainda no calo de quem acredita nisso ou naquilo. Aos que creem que Deus deu a vida e só ele pode nos tirar deve soar uma baita heresia a tal da eutanásia, mas e quem já cansou de "fazer hora" extra aqui?
Eu acho que se a pessoa tem condições de opinar pelo o que ela quer, que se faça sua vontade.
Acho que aqui no Brasil isso só vai ser permitido daqui uns séculos...

Sandra disse...

É mesmo uma questão complicada e delicada essa.... eu acho complicado"condenar" uma pessoa que queira dar cabo a própria vida (eutanásia) quando essa está sofrendo absurdamente e não aguenta mais... o que fazer??
Eu não sei se quero viver até os 100 anos! quer dizer, o que eu tenho medo é de ficar dependente de alguém e viver sem saúde...neste caso, acho que a idade acentuada traz ainda mais sofrimento... ai, tema bem delicado esse!
Eu lembro de um post que vc escreveu sobre a morte de um senhor, que deixou testamentado que no seu velório queria um carrinho de pipoca para os "convidados", quando terminasse a cerimônia funebre. Achei de uma espirituosidade pensar em algo assim!Bjs