A "Mudança para a Holanda" já aconteceu há alguns anos.
Hoje já tenho uma certa rotina mas, ainda, com algumas coisas novas... assim é a vida.

Muitas coisas aconteceram... nascimentos, amizades novas e fortes, outras frágeis e desfeitas.
E vai-se vivendo e aprendendo, ou não...afinal quem é perfeito? Eu tento...
E a vida ainda segue, meus caros, no "Vivendo aqui na Holanda"...
Seja bem vindo(a)!

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A vizinha


Talvez a ilustração acima seja meio exagerada, mas vamos lá...é mais ou menos assim.
Quando ela me conheceu, foi super simpática. Eu diria simpática até demais. E, sério gente, passei a ficar muito pé atrás com pessoas super mega simpáticas.
Ela não é holandesa, o marido sim.
Aí o tempo foi passando, a pessoa querendo bancar a super prestativa. Fazendo coisinhas de comer e entregando aqui pra gente... Ui... faz séculos que nunca mais vi isso na minha vida, nem no Brasil.
Antes eu até sonhava em ter uma vizinha assim, pra gente tomar um café, trocar umas ideias e, porque não, até se ajudar em algumas coisas. Aquela boa e velha política da boa vizinhança. É legal, é saudável.
Eu sou do tipo que se, por acaso, eu não puder fazer algo num determinado momento, eu deixo pra fazer depois. Não fico atrás dos outros, requisitando favorezinhos, solicitando. Afinal todo mundo tem o que fazer.
Uma pessoa não precisa me perguntar se quero algo do supermercado. Até onde sei, estou perfeitamente capaz de ir até lá para fazer as minhas compras.
Confesso que estranhei e muito todas as ofertinhas cordiais.
Até que um dia...
"_ Oi, olha, eu preciso sair rapidinho, porém é o horário da minha filha dormir. Então, aqui está o babyphone e a chave. Caso você escute que ela acordou, pode ir lá e pegá-la. Ahhh você só coloca uma roupinha nela, porque ela está de pijaminha."
Tomei um susto!
Em pé na porta, me vi com um babyphone na mão, a chave e uma criança que poderia acordar a qualquer momento e que mal tinha me visto na vida.
A vizinha se picou.
Tudo bem, ela voltou em 45 minutos. Foi uma eternidade e eu rezando para que a menina não acordasse.
A vizinha tinha uma reunião de trabalho voluntário que tinha sido antecipada.
Eu teria ido nesta reunião no horário da minha filha dormir? Claro que não. E você?

Festa de voluntariado. Me perguntou o que ía fazer no dia - oh a invasão de privacidade - e me pediu pra deixar a menina aqui comigo. Eu disse não, que não ía ficar.
Pô, é festa, leva a criança junto, oras oras...
E, com muito jeitinho, ela tentou outras vezes, até que eu, também, com meu jeitinho holandês, disse que o buraco era mais embaixo: quer que eu tome conta da sua criança? Me pague!
Eu comecei a perceber que tomar uma simples xícara de café poderia me custar muito caro.
O tempo passou e, felizmente, ela encontrou um trabalho!
E foi aí que ela ficou na minha cola de novo. Ela cismou que eu tenho que ser a babá da filha dela.
Veio com uma ideia super mirabolante: acordar na madrugada, ir lá pra casa dela, tirar a menina da cama, trocar, dar o café, escovar os dentes e levar para a creche... por cinco eurecas, porque ela acha que TUDO ISSO eu farei em apenas uma hora.
Olha, no dia que isso aqui amanhece como se fosse o último dia, você tem certeza de que é o Apocalipse, aquele vento e chuva que podem te virar do avesso na rua... você sairia por cinco eurecas do seu lar? EU... JAMÉ!
Eu tô resumindo a estória porque se eu fosse narrar todos os detalhes... ah isso aqui ía longe.
Mas espera, esta é legal: mandou o marido bater aqui para pedir que os levassem para a estação de trem!
Sim, isso mesmo, na maior cara de pau. E olha que era um dia em que a gente estava ocupado e eles sabiam disso. Mas quem se importa?
Estava chovendo, sim, mas aquela garoa fina. Nem vento tinha.
Podiam ter pego um ônibus, podiam ter esperado a chuva dar uma paradinha, podiam usar capa de chuva, mas claaaaro que não. Ela achou melhor pedir pra gente, afinal para que serve o carro dos vizinhos?
Mais uma vez, fomos pegos de surpresa! Ficamos sem ação e marido enfiou todo mundo no carro e levou, o casal e a criança.
A última, destes dias, é que me enviou um sms. Já passava das nove da noite. Queria saber se eu estaria em casa - oh a invasão de novo - para receber um pacote para ela no dia seguinte.
Olha, gente, isso me irrita profundamente. Não é o fato de receber pacotes que não são meus, mas a invasão de privacidade. Se eu estou ou não em casa, não é da conta dela.  E, vamos combinar, é muita cara de pau a pessoa vir te pedir isso, falando de um jeito como se você tivesse a obrigação. Eu não sou a única vizinha. Um outro vizinho poderia muito bem receber o pacote dela. Não precisa combinar este tipo de coisa, isso acontece numa dinâmica natural - apesar de eu já ter notado que tem gente que está em casa e não abre pra entregador, não!
Nem preciso dizer que o sms foi totalmente ignorado.
Detalhe: ela transferiu os trabalhos voluntários dela para o fim de semana.
Sou só eu que acha isso um absurdo? 
Você tem marido, filho pequeno, trabalha a semana inteira viajando, seu filho longe de você e quando é fim de semana deixa os seus em casa para fazer trabalho voluntário???? Ok, atitude nobre, é. Porém, só penso que não adianta nada você querer consertar o mundo lá fora se a sua casa e a sua família ficam sem você. Ainda mais uma criança que acabou de fazer três anos.
E, ok, se ela quer fazer tudo isso, tudo bem, mas não venha me empurrar os abacaxis que são dela, para eu descascar.
Sabe aquela sensação de você oferecer a mão e a pessoa arrancar seu braço? Com ela é assim.
E ela falando que ficou tão feliz quando soube que eu era brasileira.
Ohhh e por que será?
Não sei o conceito dela sobre brasileiros - ou até suspeito - mas, se depender de mim, ela vai mudar de opinião!

8 comentários:

Gabi disse...

Geente! As definições de "folgada" foram atualizadas, hahaha.. eu volta e meia leio o blog, mas acho que nunca comentei. Gosto muito do jeito como descreve o dia a dia por aí.. Boa sorte com a intrometida!

Ana Célia disse...

Que abusada!
Essa de deixar o babyphone com vc foi a pior de todas!
Se tranca em casa, fecha as cortinas qdo essa mulher sair na rua! haha

Luana disse...

QUE FOLGA!!!!

Ma disse...

Eliana do céu, como te entendo! Olha eu poderia te contar histórias sem fim sobre o assunto, mas infelizmente tem que ser pessoalmente, porque sabe como é, tem sempre boi na linha hahahah. Minha vizinha é um amor, me quebra o maior galho quando preciso de ajuda com as meninas, mas também é meio sem noção às vezes. Aqui no meu prédio ninguém fica em casa, mas todo mundo faz compras online e TODO DIA chega pacote. Adivinha onde tocam pra entregar tudo? Não abro mais a porta e me finjo de morta, porque não sou porteiro de prédio e acho que os outros têm que se mancar. Enfim, tenho histórias. manda essa vizinha pastar! Bjs

rose disse...

Ela é muito cara de pau, da um chega pra lá nessa folgada.
Concordo também que ela deveria dar mais atenção a filha que é tão pequena, pelo menos nos finais de semana.
Quando começam a abusar da minha boa vontade eu corto na hora, sou franca até demais.
Bjs

Anônimo disse...

Afe!
Não sei se choro ou se dou risada. E eu aqui pensando que o meu vizinho mala era o único dessa espécie. Que gente mais folgada!
Enfim... Boa sorte com essa sujeita, pelo visto você vai precisar.
bjs

Ana disse...

Caramba, que bizarro isso! É muita folga pra uma pessoa só. O pior é que, sendo vizinha, você acaba arriscando de cruzar todo dia, mesmo se ignorá-la.
O preço mínimo pra ser uma babá é o salário mínimo, né, convenhamos. Aqui dá 11 euros por hora. Já acho muita cara de pau querer que você faça isso de graça ou pagando 5 euros... o.o
A melhor das sortes com ela! Espero que ela pare de importunar.

Eliana disse...

Gabi, seja bem vinda. Obrigada pelo seu coment por aqui!

Ma, eu sou a primeira a querer ajudar se vejo que a coisa tá pegando. E ainda uma mãe. Não custa e acho que muitas vezes uma mão lava a outra.

Dona Rose, já dei vários perdidos nela e já dei cada resposta na ponta da língua, pois comecei a preverer as ações dela!

Ana Célia, andei fazendo isso mesmo, fechando as cortinas e deixando de atender à porta.

Ana, aqui, no caso, da informalidade as pessoas tomam conta em casa de crianças por 4 a 6 euros por hora. Porém é pra ficar só olhando, sem mais obrigações. Levar e buscar nem existe aqui! hahhaha